O dia em que fui na direção que apontavam as batidas do meu coração

*Por Graziela Sirtoli

Um dia, a caminho do trabalho, ainda na época que morava em São Paulo, contei para um amigo que estava para começar um MBA em Marketing. Na hora, ele falou: “Sério? Mas por que você não faz alguma coisa fora da área? Algo que seja mais interessante e que você goste mesmo”.

Eu ouvi, fiquei pensando um pouco e depois me dei conta de que não fazia algo que eu de fato gostava porque a vida é feita de boletos e de pouco tempo e dinheiro disponível, não é mesmo? Rs. Na época, o MBA me ajudaria no trabalho, em uma possível troca de emprego e, é claro, poderia ampliar o meu, o seu, o nosso, querido networking.

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– Como foi pedir as contas e transformar o meu hobby em negócio (e felicidade)

Pois bem. Fui lá, fiz o MBA, passei muitos sábados com a bunda na cadeira, terminei e foi ótimo. Valeu a pena? Sim. Conheci gente legal? Muita. Mas esse texto não é para falar desse curso. É para falar de outro. Então, vamos ao que interessa:

Faz 3 anos que me mudei para o Rio de Janeiro, sou assessora de imprensa e desde que me conheço por gente faço cursos para aprender algo considerado “útil” pela sociedadhy – inglês, espanhol, mexer no Photoshop, aprender o mais novo segredo das redes sociais – ou para emagrecer/tentar emagrecer/ficar com o corpo do mesmo jeito, mas com a cabeça menos louca.

Grupo de mulheres – bem longe do estereótipo de vovozinhas – em curso de costura (Arquivo Pessoal)

Eis que, no ano passado, resolvi dar espaço na minha vida a algo que fugisse a essas necessidades. E, então, comecei a dar asas a um projeto meu. Meuzinho da Silva. Ainda não vou falar dele aqui. Espero voltar um dia com ele concretizado e então contar como “aos 30 anos, Graziela revolucionou sua vida e hoje vive feliz, plena, completa e realizada”. Mentira. Não acredito nisso (e peço, encarecidamente, que também não caiam nesses papinhos). Mas, quem sabe, num futuro, eu esteja feliz por ter me dado uma chance.

Bom, voltando… Em 2017, resolvi que o que eu precisava e que dedicaria meu tempo por um bom período seriam aulas de costura. Meu Deus. Costura. Que. Coisa. Retrógrada. Só. Vai. Ter. Ela. E. As. Tiazinhas. De. Copacabana. ANRAM. Vai pensando, lindxs. Me matriculei no Senac. A missão era longa: três meses de aula, de segunda, quarta e sexta. Das 18h às 22h. Tem certeza que é isso mesmo que você quer? Uhum.

Minhas dúvidas sobre o curso giravam na conta: dinheiro gasto x tempo empregado x cérebro, por que tô querendo isso?! Não pensava – eu acho que não pensava – no que as pessoas achariam. É, lembrando agora, isso não era um problema. Até que comecei a contar para os outros. E sim, a reação das pessoas foi bem esquisita: “vai largar a profissão?”, “não conheço nenhuma costureira rica”, “isso é coisa de mulher de antigamente”. E aí, minha filha, ou você tá segura da sua decisão e de si, ou você começa a achar MESMO que o certo é ir lá se matricular nos ditos cursos úteis. Graças a Deus, Jah, Alá, sou impulsiva e lá fui eu para a costura. Mas, só para ser justa, no meio desse processo, também vieram muitos: “Costura? Nossa, queria tanto aprender!”. E aí, a gente só fica aqui observando todo mundo com vontade reprimida.

Continuando o processo de alterar a rotina para o curso caber na vida, alinhei a vida de casa com meu namorado, mandei e-mail para o cliente, liguei para família. Todo mundo pensando: o que ela está inventando?! Eu também me perguntava isso às vezes. Mas vamos lá, Brasil. Tá pago e agora é só ir.

A serenidade no olhar de ‘senhoras de Copacabana’ e do professor em aula de costura (Arquivo Pessoal)

Na prática 

Primeiro dia: cheguei no Senac, peguei o elevador com um mulherão todo estiloso. Pensei cá com meus botões preconceituosos (porque todos somos, né?): “Certeza que ela não vai para o curso de costura”. Pá. Toma trouxa. Sim, costura. Na sala, um montão de mulheres entre 18 e 40 e poucos anos. Velhinhas? Olha, tinha uma senhora de 60 anos, que corre todo dia na praia, fala mais de 5 idiomas e tem um corpo ‘deuso’. Acho que vamos precisar repensar o conceito de terceira idade, não é meixxmo?

“As aulas começaram, e o amor veio assim todo borboleteando no meu coração. Pela costura? Completamente”

Amei a liberdade de ir às lojas de aviamentos e procurar por tudo, comprar tecido, objetos que nunca imaginei a utilidade e me sentir livre, livre. Saber que todo o gasto e todo o tempo na máquina eram só por um motivo: eu queria aquilo.

Quando isso começou a acontecer, eu só pensava: “Sim, Robson. Você tinha toda razão, meu amigo”. Nos dias de aula, eu tive o privilégio de conviver com 15 mulheres das mais diferentes partes do Rio de Janeiro. Com histórias de vidas completamente diversas. (Hey, Senac! Valeu pela aula de antropologia for free). E, o mais lindo, foi ver que, naquele espaço, podíamos sim ser todas mulherzinhas. Mulherzinhas para caralho. Daquelas que se respeitam, trocam conselhos e falam de tudo o que quiserem. De coletor menstrual ao ator gato da novela. De como fazer a transição do cabelo com química a educar um menino – ainda na barriga da mãe/sim, tivemos uma gravidez nesses 3 meses – nesse mundo cão em que precisamos (POR FAVOR!) de homens melhores.

No final do curso, já estávamos só o pó da rabiola. A conversa já começava a sair da costura e ir para “pelo amor de deus, quando vamos beber?”. Coitado do professor. PROFESSOR. Uhum. Para quebrar com tudo que eu havia imaginado de uma aula de costura, tive um cara lindo, de uns 30 e poucos e gay me dando aula. Ah, e santo também. Porque só ele na Terra para nos aguentar…

Eu posso ficar aqui falando do curso para sempre. Descrevendo cada uma das personagens que conviveram comigo nessa viagem sideral pelo mundo dos panos. Opa, tecidos. Mas acho que esse texto muito mais do que falar da minha experiência, é para motivar você ter a sua. Então, a única coisa que eu posso falar é: vai, malandra.

“Faz o que você tem vontade. Não se amarra. Não coloca mil impedimentos”

Se é caro, se é chato, se é isso ou aquilo, não faz mal. Paga para ver. Quantos cursos uó a gente já não aguentou por causa do trabalho? Pois então, mulher! Se dá uma chance.

Eu sei que aqui é o blog da Ba, mas se eu estivesse sendo entrevistada hoje pela Marília Gabriela e ela me perguntasse: “Agooora, para finalizar, uma frase!” Eu falaria bem com uma cara de culta: “Marília, como dizia Dona Canô (ou a internet), ser feliz é para quem tem coragem!”. Ou então, se tivesse numa mood mais urbana, moderninha e polêmica (sim, a gente tá de olho, Emicida), citaria “Levanta e Anda”, do moço aqui comentado: “Irmão (IRMÃ), você não percebeu que é o único representante do seu sonho na face da Terra?”.  Costurem. ?

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Contadora de histórias, aquariana e obstinada por grandes revoluções - principalmente internas. Compartilha vivências do seu processo de autoestima e entrevista mulheres inspiradoras.

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