A escola é o ambiente onde o adolescente mais passa tempo na vida. É ali que, além de aprender, ele vai construir sua identidade. Neste espaço, muitas vezes hostil, as meninas encaram ainda mais desafios na transição da infância para a adolescência. Precisamos debater sobre isso.
O Blog Barbarela conversou com Gina Vieira, professora da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal e vencedora de 12 prêmios com o projeto Mulheres Inspiradoras, que exalta a mulher e seu papel na sociedade.
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O potencial da mulher, frente a uma sociedade culturalmente machista e com pressões comportamentais e estéticas que mexem com a cabeça de todas, tende a ser desfavorecido, de acordo com a educadora.
“Precisamos garantir às nossas meninas o direito de serem vistas com altas expectativas, tanto quanto olhamos para os meninos”
Segundo a pofessora, “elas [as meninas] são educadas para serem boazinhas e subservientes, então, muitas vezes, uma menina que se destaca, que se expressa, que fala o que pensa, pode ficar estigmatizada”.
Dura realidade
Gina lembra, ainda, as dificuldades que as meninas têm em relação às expectativas e representações sociais sobre elas. “Há uma lógica machista que impõe vários estereótipos que precisam ser vencidos: meninas não são boas nos esportes, meninas não são boas em tecnologias e nas exatas.
Para a educadora, as barreiras sociais e econômicas – realidade de muitas famílias do país – também precisa ser mencionada: “Ainda é muito recorrente a prática de as famílias imporem exclusivamente às meninas a responsabilidade pelo trabalho doméstico e o cuidado com irmãos mais novos. Ainda ocorre de muitas meninas, sobretudo em regiões de maior vulnerabilidade social, serem incentivadas a sair da escola para ajudar no sustento da família, para atuar como babás ou trabalhadoras domésticas”, diz.
O discurso de Gina é representado no relatório “Situação da População Mundial 2016” do UNFPA, o Fundo de Apoio à população da ONU. De acordo com o levantamento, na maior parte dos lugares do mundo, quando uma menina completa 10 anos de idade, ela deixa de ser vista como uma pessoa, como sujeito de direitos, e passa a ser vista como alguém a ser explorada no trabalho infantil, nas tarefas domésticas, no casamento precoce, no abuso sexual.
“Precisamos apoiar incondicionalmente as meninas para que elas tenham acesso à educação formal e possam viver experiências exitosas na escola”
“Olhando para os dados trazidos por esse relatório, a gente percebe que se quisermos promover um desenvolvimento social sustentável, precisamos apoiá-las com urgência”, comenta Gina.
O poder das referências
Gina Vieira, através do projeto Mulheres Inspiradoras, encontrou uma forma de deixar as aulas de português mais atrativas, com obras que exaltam mulheres que fizeram e fazem a diferença em suas comunidades – seja socialmente ou através da arte.
Seu trabalho só foi possível porque ela, na infância, também teve de onde tirar inspiração: “Para citar o meu exemplo, quando eu, aos 8 anos de idade, encontrei com a professora Creusa, uma mulher negra que ocupava um espaço que, para mim, era grandioso, eu senti que aquele também poderia ser um espaço para eu ocupar. Ela foi a pessoa mais intelectualizada a quem eu tive acesso na minha infância”.
Os pais da educadora: dona Djanira, trabalhadora doméstica, e seu Moisés, vendedor ambulante, repetiam para Gina que tinham chegado até ali para que ela fosse mais longe.
“Quando a professora Creusa chegou à minha vida, o conceito de ‘mais longe’ ao qual meu pai e minha mãe se referiam foi ficando mais claro, mais concreto. A gente só deseja o que a gente conhece. Se no entorno das meninas são apresentadas boas referências femininas, elas podem desejar trilhar caminhos similares aos dessas grandes mulheres”, finaliza.
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