Foram 12 anos trabalhando como securitária na mesma empresa. Maria Lúcia Rezende, de 32 anos, amava o que fazia, sempre teve uma relação de comprometimento no lugar onde ela cresceu profissionalmente. Mas, depois de anos, o ambiente onde ela aprendia diariamente, deixou de ser agradável.
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“O preconceito teve início quando eu comecei a engordar. A diretora da empresa sempre falou comigo sobre a questão do peso”, explica Maria Lúcia.
“Eu ouvia: ‘Você esta gordinha, cuidado para não ficar igual a Fulana. Você tem um rosto tão bonito, não pode ficar assim'”
Segundo ela, a pressão do trabalho e as responsabilidades a deixavam ainda mais ansiosa, o que a fazia comer mais. “O preconceito ficou mais evidente quando uma nova colaboradora chegou na equipe. Essa nova colega de trabalho era “ex-gorda” (bariátrica), e as coisas começaram a ficar incontroláveis. Eu ouvia comentários do tipo ‘vai ligar o ar, porque gordo sente muito calor’. As coisas foram se perdendo na situação, e o respeito também”, relembra.
Na época, a então securitária não conhecia referências de mulheres gordas e empoderadas, não tinha representações de pessoas que fizessem dar um basta no que faziam com ela. “Quando você está envolvida na situação, não é tão simples. Hoje, olhando de fora e com toda a informação que tenho acesso, é diferente”, afirma.
Demissão forçada
Maria Lúcia resolveu ter um bebê 14 anos após a primeira gestação. Grávida e trabalhando na mesma empresa, ela percebeu que as piadas de mau gosto e o preconceito com sua forma física ficavam ainda maiores. “Virou uma panela de pressão. Não só dos comentários relacionados ao peso, mas no geral. Coisas do tipo ‘ruim de trabalhar com mulher é que ela ela tem ‘tesão’ e engravida'”.
Maria Lúcia saiu uma semana de férias para fazer seu enxoval. Antes de tirar os dias de folga, ouviu de um colega de trabalho que “ela devia ter cuidado para não engravidar de novo, pois o problema não era aquela gestação, mas uma próxima”.
“Foi então que a minha ficha caiu, como se eu tivesse despertado. Conversei em casa e resolvi que não voltaria da semana de férias. Quando comuniquei a decisão à empresa, foram resistentes em fazer a demissão (mesmo eu pedindo), por conta da gestão e chegaram a colocar a culpa nos meus “hormônios”. Eles a afastaram até o bebê nascer e, depois da licença, o pedido de demissão foi formalizado.
Reviravolta
Maria Lúcia sabia que queria ter um negócio próprio, mas decidiu para que caminho seguir apenas quando sentiu na pele a falta de roupas de festa para gordas. “Eu fui convidada para ser madrinha de uma casamento no civil, não encontrava nenhum vestido e também não tinha tempo para garimpar. Meu bebê estava com pouco mais de 40 dias. Acabei entrando em uma loja e comprando o primeiro vestido que serviu”, conta.
Ela já conhecia o sistema de malinha para crianças e, conversando com a mãe, recebeu o conselho de ir pra o universo plus size: “Não sabia por onde começar, então fiz a pesquisa de mercado e, alguns meses depois, comecei com o delivery”.
Aos poucos, a relação da agora empresária com o marido e os filhos só melhorou, e ela encontrou algo que ama e que a completa.
Para as mulheres que sofrem com a gordofobia em seus ambientes de trabalho, Maria Lúcia aconselha: “Dê um basta! Não permita que as pessoas te julguem por você estar acima do peso que elas achem ideal. A sua capacidade não está no número do seu manequim”.
Malinha Plus Size
Hoje, Maria Lúcia trabalha vendendo roupas plus size para mulheres em São Paulo e região metropolitana, por meio de malas com itens que a cliente pode experimentar e, se gostar de algo, comprar. A Malinha também possui um site em que é possível escolher os produtos e comprar exatamente a peça que você desejar.
Mais recentemente, a empresária começou a criar a confecção própria. Uma coleção em conjunto com a Lara Luiza Plus também acaba de chegar ao mercado.
Serviço – Malinha Plus Size
Instagram: https://www.instagram.com/malinhaplussize/
Site: http://www.malinhaplussize.com.br
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