Eu dançava Madonna igual você em frente ao espelho, queria vestir a mesma calça jeans, mesmo que a barra fosse muito grande, e me achava muito adulta quando tinha a chance de ir ao seu “churras da facul” enquanto eu ainda estava no ensino fundamental.
Pequenininha, eu era enganada quando você saía na surdina para a balada e, no momento em que eu percebia, chorava uns bons minutos antes de sair dobrando seu guarda-roupa inteiro que estava sobre a cama.
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“Eu queria ser grande como você”
Te vi dar uns bons pés na bunda de namorados, chorava com cada um deles, mas, depois, aprendi que você estava certa ao se amar mais do que aqueles marmanjos. “Mas ele te trouxe um buquê de flores, veio de Santos até São Paulo”, eu dizia. Mas você já estava em outra, nem gastava sua energia.
Vi você se formando numa faculdade predominantemente masculina – só você e mais umas duas mulheres no curso de engenharia. Vi sua força, sua inteligência e seus múltiplos sucessos na carreira se acumulando. Você foi minha inspiração para crescer na minha.
Busquei me dedicar com todo afinco aos cursos que você me matriculava, à faculdade em São Bernardo do Campo, que você ajudou a pagar. No trabalho, mesmo quando não ganhava nada, fazia de tudo para ser boa, para mostrar que o [seu] dinheiro tinha sido bem investido.
“Mas a gente cresce, né? E nossas referências mudam, nossa visão de mundo também”
E que mundo grande, graças a Deus! Comecei a pensar com minha própria cabeça, escolhi um ponto de vista bem distante do seu. Desculpa, mas eu não vou mais discutir. Nem ouvir esse seu eu que, para mim, ficou no passado – conservador demais em alguns casos.
“Vai chorar?”, você me questionou quando me viu debatendo e dizendo que sua opinião “homossexualidade é moda”, “negro quando fica rico só escolhe loira”, etc. Quase chorei, mesmo, foi uma grande decepção.
Me segurei, pois foi com você que aprendi a ser forte. Mas agora uso este espaço para colocar minha posição: não sou perfeita, tenho muitos pré-conceitos sobre muitas situações e pessoas. Mas, quando eu digo que é preciso parar de estereotipar, é porque isso não faz bem, só aumenta a intolerância. Quando eu digo que palavras antes usadas de forma comum podem machucar, é porque também estou no processo de aprendizado. Não se “denigre”, não é “mulata”, não é “bicha” ou “veado”. Somos todos iguais, independentemente de qualquer coisa, qualquer coisa.
Foi bom escrever tudo isso. Eu precisava desabafar, “chorar em letras, palavras, frases”. A raiva está passando, eu amo você minha irmã. Só não penso igual.
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