Tudo passa, eu continuo: como eu me sinto durante um ataque de pânico

*Por Juliana Dutra

Uma frase solta, um som específico, uma cena ou uma palavra fora de lugar fazem um clique na sua cabeça. Ele pesca a pior memória lá no inconsciente, que você não é capaz
de atingir. É a zona abissal do pensamento que você não enxerga nada e não tem nenhum controle. Aí esse mar profundo faz emergir alguma coisa.

Para cada pessoa é diferente, mas o coração é o primeiro passo. Você percebe que algo deu errado, ou melhor, que agora vai dar muito errado e, por algum motivo, você está em risco por causa disso. O seu corpo está dizendo que você corre perigo. O coração bate tão torto, doído e rápido que é uma piada pedirem para você conseguir respirar direito para controlá-lo, já que o ar vem tão ofegante que parece que você acabou de correr uma maratona, mesmo estando ali, tão passivo ao ambiente.

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A ironia é que quanto mais você tenta regular a respiração, mais a mente vai sumindo. A cabeça é uma névoa semelhante a quando você está com muito sono, ou muito bêbado (o que for a analogia mais legal para você).

“A cabeça pesa, mas flutua, como se estivesse cheia de algodão, e te leva para aquele mundo intermediário de sonho, que faz com que você tenha a sensação de que não está ali”

As pessoas ao redor se movimentam e existem como se estivessem em um filme paralelo e você fosse um mero espectador daquilo.

Às vezes os braços ficam dormentes e formigando, como se não fossem mais seus e, embora você saiba que precisa sair do lugar para lavar o rosto, ou, sabe, não parecer que é uma múmia viva para os outros te olharem estranho, você não consegue todas as vezes, porque parece que aquele seu corpo é estranho.

Isso é no pior caso. No mais normal, você pode achar que está controlando e respirando bem, apesar do coração estar berrando no seu peito. As mãos tremem e, se não forem elas, é o maxilar que está travado, mexendo sozinho.

“Levanta, sai, vai ao espelho. Lava a cara. Chora, chora, chora. Tenta colocar pra fora esse medo que você chama de estúpido e que surgiu do nada – quase”

“Não tem nada acontecendo, você está bem, vai ficar tudo bem, tá tudo certo”: você mente e espera mais um pouco. Vai passar. 20 minutos no máximo. Só contar.

Ok. Recompôs.

Qualquer alerta pode voltar tudo, então é melhor você ter cuidado. Um pensamento errado que tiver um pouquinho de moral pode te derrubar de novo.

Superado, segue a vida. Vem o sono. Muito sono. E você nem havia saído do lugar. A vontade é dormir o resto do dia inteiro, porque não há energia.

Aos poucos, talvez, você consiga rir das piadas, fazer piadas, ou gastar a adrenalina de outro jeito, com um exercício. É um jeito de continuar até o fim do dia.

O humor fica neutro, taciturno. Está no “bateria fraca”, mas está tudo bem, porque é melhor do que quando você estava naquele brinquedo gira-gira da “Noite do Terror”.

Vem a noite, você dorme.

Será que vou acordar bem?
Será que o problema vai aparecer de novo?
Será que vou ter coragem de fazer isso?
Será que consigo passar por isso?
Será que vai acontecer de novo?
Será que a recaída vai piorar?
Será que vou sentir isso pra sempre?
Quanto tempo vai durar a recaída?
É frescura, né?

“Não sei, mas tudo passa. Eu continuo”

E vou ter força, eu acho. Ontem eu tinha certeza, hoje já não sei, mas o importante é que continuo e tento olhar o agora. Um teclado, a tela do computador. Não tem nada de errado acontecendo neste exato momento. E assim começo a acreditar que isso é verdade.

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Contadora de histórias, aquariana e obstinada por grandes revoluções - principalmente internas. Compartilha vivências do seu processo de autoestima e entrevista mulheres inspiradoras.

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